Flanders, apesar de isso lhe poder salvar a vida, o que era verdade, considerando tudo isso, como dizia, consentiram que fosse degredada, o que era o máximo favor que ela podia obter. Disseram-lhe, no entanto, que, se entretanto apresentasse a dita Mrs. Flanders, intercederiam para que lhe fosse concedido o perdão; isto é, se me encontrasse e me denunciasse, não seria degredada. Claro que tive o cuidado de tornar impossível que tal se verificasse, e por isso embarcou pouco depois para cumprir a sua pena.
Devo repetir, mais uma vez, que o infortúnio desta pobre mulher me perturbou indizivelmente e compreendi, com grande tristeza, ter sido a causadora da sua desgraça. Mas a preservação da minha própria vida, tão obviamente em perigo, venceu todas as considerações e sentimentalismos e, como não foi condenada à morte, senti-me tranquila com a sua deportação, pois assim não poderia fazer-me mal, acontecesse o que acontecesse.
A prisão desta mulher verificou-se alguns meses antes do último caso que contei e foi, em parte, o que deu origem à proposta da minha governanta para que me vestisse de homem, pois assim passaria despercebida, como na realidade aconteceu. Depressa me cansei, no entanto, do disfarce, como já disse, pois expunha-me a muitas dificuldades.
Não receava agora que testemunhassem contra mim, pois todos aqueles que tinham trabalhado comigo ou que me conheciam pelo nome de Moll Flanders haviam sido enforcados ou deportados; se tivesse a infelicidade de ser presa, podia indicar qualquer outro nome e não me seriam atribuídos nenhuns delitos antigos. Comecei, por isso, a actuar com mais liberdade e tive algumas aventuras lucrativas, embora não tanto como as anteriores.
Verificou-se nessa altura outro incêndio, não muito longe do lugar onde a minha governanta vivia, e tentei repetir a anterior proeza, mas, como não consegui chegar antes da multidão à casa sinistrada, em vez da presa cobiçada aconteceu-me um acidente que quase pôs um ponto final à minha vida e aos meus pecados.
