Por isso, embora na aparência fosse mendiga e me acenassem com montanhas de ouro e de prata, para me atraírem, não me convenceram. É verdade que, se fosse de facto uma mendiga ou me encontrasse desesperada como quando enveredei pelo caminho do crime, talvez não resistisse à tentação, pois que importa a morte àqueles que não sabem como viver? Mas a minha situação modificara-se muito e eu tinha, pelo menos, a sensatez de não correr riscos tão terríveis. Além disso, a simples ideia de ser queimada viva numa fogueira enchia-me a alma de tão grande terror e gelava-me de tal modo o sangue que não podia nem pensar no caso sem tremer toda.
Isto foi, também, o fim do meu disfarce, pois, apesar de não me agra- dar nada a ideia, não lho disse e fingi-me, pelo contrário, encantada com ela, prometendo encontrar-me de novo com eles para combinarmos tudo. Não me atrevi a tal, porém, pois, se os procurasse e declinasse a oferta, mesmo que lhes jurasse o maior segredo do mundo, quase seriam capazes de me matar, para terem a certeza de que me calaria e se sentirem tranquilos. Melhor julgará dessa tranquilidade quem for capaz de compreender que possam sentir-se tranquilos homens que não hesitam em matar para não correrem riscos.
Cunhar moeda falsa e roubar cavalos estavam, evidentemente, fora da minha especialidade e nada me custou a tomar a resolução de não me meter mais nessas coisas. O meu género parecia ser outro e, embora não lhe faltassem também perigos, sentia-me mais à vontade, encontrava-lhe mais variantes para o meu engenho, mais possibilidades de fuga, de me pôr a salvo se surgisse um percalço inesperado.
Nessa altura fizeram-me também várias propostas para aderir a uma quadrilha de arrombadores de casas, mas a ideia atraiu-me tão pouco como a de moedeira falsa.
