Concordei, no entanto, em acompanhar dois homens e uma mulher, cujo ofício consistia em entrar em casa alheia graças a estratagemas, pois esse género interessava-me muito. Mas, como já eram três e não queriam separar-se e a mim não me agradava uma quadrilha muito numerosa, desisti e eles pagaram cara a tentativa seguinte.
Por fim encontrei uma mulher que me falara muitas vezes das suas bem sucedidas aventuras na zona ribeirinha, uni-me a ela e saímo-nos muito bem. Um dia encontrámo-nos com alguns holandeses em St. Catherine's, onde fomos sob o pretexto de comprar mercadorias que sabíamos terem desembarcado clandestinamente. Estive duas ou três vezes numa casa onde vimos grande quantidade de artigos proibidos e numa delas a minha companheira apoderou-se de três peças de seda preta, holandesa, que rendeu bom dinheiro, que ela compartilhou comigo. No entanto, sempre que lá fui sozinha, nunca consegui trazer nada e, por isso, desisti da ideia, pois começavam a desconfiar de qualquer coisa e não se descuidavam.
Isto desanimou-me e, como não estava habituada a vir tantas vezes com as mãos a abanar, decidi arranjar qualquer coisa, fosse como fosse. Assim, no dia seguinte, vesti-me a preceito e fui passear para o outro lado da cidade. Passava pela Bolsa, no Strand, mas sem a mínima intenção de procurar aí presa, quando, de súbito, vi uma grande aglomeração de pessoas e to- dos, incluindo os lojistas, levantados e a olhar. Vim a saber que chegara uma duquesa qualquer e diziam que vinha a rainha. Coloquei-me junto de uma loja, de costas para o balcão, como para deixar passar a turba, mas sem despregar os olhos de umas peças de renda que a lojista mostrava a algumas senhoras que se encontravam perto de mim. Aquela e a criada estavam tão empenhadas em ver quem passava e a que loja iam, que tive ensejo de meter uma peça de renda na algibeira e de sair com ela.
