Vivi muitos dias vergada sob o peso do maior horror de alma que se possa imaginar; tinha, por assim dizer, a morte à vista e, noite e dia, não pensava noutra coisa senão em forcas e nós corredios, Maus espíritos e demónios. É impossível exprimir por palavras os tormentos em que vivia, entre as terríveis apreensões da morte e o terror da minha consciência, que me acusava da minha terrível vida passada.
O capelão de Newgate foi ter comigo e falou-me à sua maneira, mas as suas palavras incitavam-me apenas a confessar o meu crime, como dizia (embora não soubesse por que me encontrava ali), a fazer uma confissão completa, etc., sem o que Deus jamais me perdoaria. As suas palavras foram tão mal escolhidas que não me confortaram. Além disso, havia algo de tão chocante no facto de o ouvir, de manhã, aconselhar-me a confissão e o arrependimento e de o ver, ao meio-dia, embriagado de brande e aguardente, que comecei por sentir mais repugnância pelo homem que pelo seu trabalho e acabei por não poder tolerar ambos e desejar que não me aborrecesse mais.
Não sei como as coisas se passaram, mas, graças ao afã infatigável da minha diligente governanta, não me pronunciaram na primeira reunião, isto é, não tive de comparecer ainda perante o grande júri, em Guildhall. Dispunha, assim, de mais um mês ou cinco semanas, que devia empregar, sem dúvida, a reflectir no passado e a preparar-me para o que me esperava: numa palavra, devia ter considerado esse intervalo como uma prorrogação destinada a arrepender-me e aproveitá-la como tal, mas não estava em mim fazê-lo.