Devo, agora, voltar ao meu caso. Aproximava-se a data da minha partida para o degredo, de acordo com a sentença. A minha governanta, que continuava a ser uma amiga verdadeira e firme, tentara obter um indulto, mas isso só seria possível com uma despesa assaz pesada para as minhas posses e, se ficasse pobre e sem meios, encontrar-me-ia em piores circunstâncias do que se fosse degredada, a não ser que resolvesse voltar ao ofício que me perdera, e eu sabia que na Virgínia poderia viver e aqui não. O bom sacerdote tentou também, por outros motivos, impedir o meu degredo, mas responderam-lhe que me tinham poupado a vida a seu pedido e que, portanto, devia contentar-se e não pedir mais nada. Penalizou-o sincera- mente a minha partida, porque, como dizia, receava que se esfumassem as boas reflexões que a perspectiva da morte me inspirara e que, graças à sua doutrina, se haviam depois fortalecido. O piedoso clérigo estava preocupadíssimo comigo a esse respeito.
Por outro lado, eu própria não me sentia tão empenhada em ficar como antes, mas ocultei-lhe cuidadosamente os motivos dessa mudança de parecer e, assim, esteve até ao fim convencido de que partia com a maior relutância e angústia.
No mês de Fevereiro entregaram-me, com mais seis condenados, a um mercador que viajava para a Virgínia, a bordo de um navio que partia de Deptford Reach. O funcionário da prisão entregou-nos a bordo e o imediato do barco passou um recibo da entrega. Naquela noite ficámos fechados no porão e tão apertados que receei morrêssemos asfixiados com falta de ar. Na manhã seguinte o barco levantou ferro e desceu o rio até um lugar chamado Bugby's Hole, por acordo feito com o mercador, para que não tivéssemos a mínima possibilidade de fuga, e, quando o navio chegou e ancorou, deram-nos maior liberdade e permitiram-nos, sobretudo, subir ao convés, embora não nos deixassem aproximar da parte destinada ao comandante e aos passageiros.
