A pobre velha levou-me muitas coisas mais, mas não era conveniente mostrar-me demasiado abastada a bordo, pelo menos até saber que espécie de capitão levaríamos. Receei vê-la morrer quando entrou a bordo. O seu coração entristeceu ao ver-me e ao lembrar-se de que teria de se separar de mim naquelas circunstâncias, e chorou tanto que durante muito tempo não consegui dizer-lhe nada.
Aproveitei esse ensejo para ler a carta do meu companheiro de prisão, a qual muito me perturbou. Dizia-me que estava resolvido a partir, mas que seria impossível soltarem-no a tempo de seguir no mesmo barco que eu e que não sabia se o deixariam viajar no navio que quisesse, por se desterrar voluntariamente, ou se o levariam para bordo de um navio escolhido por eles e o entregariam ao capitão, como os presos condenados. Começava, por isso, a desesperar de me ver antes de chegar à Virgínia, o que o entristecia. Se lá não me encontrasse, se qualquer acidente do mar ou de outra espécie me levasse, seria a criatura mais desgraçada do mundo.
Fiquei intrigada e sem saber que atitude tomar. Contei à minha governanta a conversa que tivera com o contramestre e ela aconselhou-me veementemente a chegar a um acordo com ele, mas faltava-me a coragem para o fazer enquanto não soubesse se o meu marido - ou o meu companheiro de prisão, como ela dizia - viajaria comigo. Por fim tive de lhe contar tudo, excepto que era meu marido. Disse-lhe que firmara com ele o compromisso formal de o acompanhar à Virgínia, se conseguisse ir no mesmo barco que eu, e acrescentei saber que tinha dinheiro.
Depois falei-lhe longamente do que me propunha fazer quando chegássemos, de que podíamos ser plantadores, estabelecer-nos e, em resumo, enriquecer sem mais aventuras.
