E, em grande segredo, acrescentei que casaríamos assim que ele chegasse a bordo.
Foi o bastante para que concordasse alegremente com a minha ida e chamasse a si o encargo de o arrancar da prisão a tempo de viajarmos juntos, o que conseguiu, embora com grande dificuldade e não sem todas as formalidades inerentes à condição de preso-condenado-deportado, o que na verdade ele ainda não era, por não ter sido julgado, e muito o mortificou. O nosso destino estava agora traçado e encontrávamo-nos ambos a bordo, a caminho da Virgínia, na triste condição de degredados destinados a serem vendidos como escravos, eu por cinco anos e ele sob obrigação e compromisso de nunca mais voltar a Inglaterra até ao resto dos seus dias, o que o desanimava e entristecia sobremaneira. Magoava-o muito a mortificação de ter sido levado para bordo como um preso condenado, visto terem-lhe dito, primeiro, que partiria pelos seus próprios meios, como um cavalheiro livre. É verdade que não estava destinado a ser vendido, como nós, à chegada e, por isso, era obrigado a pagar a passagem ao capitão, o que não acontecia connosco. Quanto ao resto, sentia-se perdido como uma criança, sem saber que fazer de si nem do que tinha.
A nossa primeira tarefa foi dar balanço aos nossos bens. Foi franco comigo e confessou-me que as suas circunstâncias, no capítulo financeiro, eram muito boas quando fora preso, mas para viver lá como vivera - isto é, como um cavalheiro -, arranjar amigos e tentar amenizar o seu caso, tivera de gastar muito e, agora, restavam-lhe cerca de cento e oito libras em ouro, que trazia consigo.
Dei-lhe conta da minha situação com igual franqueza, embora no referente apenas ao que levava comigo; estava resolvida a conservar como reserva o que deixara nas mãos da minha governanta, acontecesse o que acontecesse.
