Apesar de nada me poder ser mais grato do que desfrutar a sua companhia, ou do que estar o mais perto dele possível, enquanto ali estivesse, não podia encarar a ideia de viver numa casa onde me atormentaria o medo constante de me trair ou de, nas conversas com o meu filho, empregar expressões susceptíveis de desvendar a verdade, o que não seria nada conveniente.
Concordou que tinha razão e decidiu:
- Nesse caso, querida mãe, ficará tão perto de mim quanto possível. Levou-me a cavalo a uma plantação que ficava próxima da sua e onde fui tão bem tratada como se estivesse na sua própria casa, e aí me deixou, prometendo-me que falaríamos do assunto principal no dia seguinte. De- pois, tratando-me por tia, encarregou os moradores (creio que eram seus rendeiros) de me tratarem com todo o respeito possível. Cerca de duas horas depois de ter partido, mandou-me uma criada e um rapaz negro para me servirem e provisões já arranjadas para o meu jantar. Senti-me num mundo novo e comecei a desejar secretamente não ter trazido da Inglaterra o meu marido do Lancashire.
Esse desejo não era, contudo, sincero, pois amava-o do coração, como sempre o amara desde o princípio, e merecia que tudo fizesse por ele.
Na manhã seguinte o meu filho visitou-me outra vez, mal me levantara, e, depois de breve troca de palavras, entregou-me uma bolsa de camurça com cinquenta e cinco pistolas espanholas, dizendo que se destinavam a pagar as despesas da minha vinda de Inglaterra, pois, embora não fosse da sua competência perguntar-mo, pensava que não trouxera muito dinheiro comigo, visto não ser costume trazê-lo para aquelas terras. Em seguida leu-me o testamento da avó, pelo qual parecia que ela me deixava, no rio Iorque, onde vivera, uma pequena plantação, como ele lhe chamava, com criados e gado, deixando-a confiada àquele meu filho para meu uso quando tivesse conhecimento de que estava viva e para uso dos meus herdeiros, se eu tivesse filhos ou, na falta destes, de quem quer que, por testamento, a ela tivesse direito.
