Na verdade, tão comovida me sentia que mal podia falar-lhe. Por fim consegui exprimir-lhe a minha felicidade por ter ficado nas suas mãos o que a minha mãe me deixara e disse-lhe que, como não tinha outros filhos além dele e passara a idade de os ter mesmo que casasse, tudo lhe deixaria por minha morte. Pedi-lhe, por isso, que redigisse um documento, que eu assinaria com alegria, segundo o qual, por minha morte, a plantação seria para si e para os seus herdeiros. Depois, a sorrir, perguntei-lhe por que continuava solteiro. A resposta foi simpática e pronta: a Virgínia não proporcionava grande número de esposas e, como eu parecia disposta a voltar a Inglaterra, mandar-lhe-ia uma esposa de Londres.
Foi esta a substância da nossa conversa no dia mais agradável da minha vida, uma conversa que me encheu de genuína satisfação. Voltou todos os dias, depois desse, passou grande parte do seu tempo comigo e levou-me a casa de vários amigos, onde me receberam com grande respeito. Jantei também várias vezes na sua própria casa, ocasiões em que tinha o cuida- do de afastar o pai semimorto com tanta eficiência que nunca o vi, ou ele a mim. Na sua terceira visita ofereci-lhe de presente tudo quanto tinha comigo de valor, um dos relógios de ouro que trouxera na arca e que já mencionei. Disse-lhe que nada mais possuía digno de lhe oferecer e pedi-lhe que, de vez em quando, o beijasse como se me beijasse a mim. Claro que não pensei sequer em lhe dizer que o roubara a uma senhora, num templo de Londres.
Hesitou, como se não soubesse se devia aceitá-lo, se não, mas eu insisti e obriguei-o a aceitar, embora não valesse muito menos que a sua bolsa de ouro espanhol; em Londres valeria o dobro do que valia aqui. Por fim aceitou-o, beijou-o e afirmou-me que o relógio era uma dívida que contraía para comigo e que iria pagando enquanto eu vivesse.