Lembro-me apenas de que, ao ser recolhida por alguns funcionários da paróquia de Colchester, contei que chegara à cidade com os ciganos e, como não quisera continuar com eles, me tinham deixado, mas não sabia para onde haviam ido, o que não os surpreendeu. Parece que, embora os tenham mandado procurar por toda a parte, não os encontraram.
Mas agora iam tomar conta de mim. Apesar de não ser, por lei, encargo da paróquia nesta ou naquela parte da cidade, como a minha pouca idade - não tinha mais de 3 anos - não me permitia trabalhar, os magistrados, quando souberam do meu caso, compadeceram-se e ordenaram que olhassem por mim. Tornei-me, assim, protegida da paróquia, como se nela tivesse nascido.
Quis a minha boa fortuna que ordenassem fosse entregue aos cuidados de uma ama, como diziam, uma mulher pobre que conhecera melhores tempos e que vivia de aceitar crianças como eu e de as criar até atingirem uma certa idade em que poderiam ganhar o seu próprio pão.
Esta mulher possuía também uma pequena escola, onde ensinava as crianças a ler e a trabalhar, e, tendo, como já referi, conhecido melhores dias, educava-as com muito saber e muito cuidado.
Mas, melhor que tudo o mais, educava-as religiosamente, pois era muito séria e piedosa, muito boa dona de casa e asseada, muito delicada e bem comportada. Por isso, exceptuando a dieta frugal, os alojamentos rústicos e as roupas pobrezinhas, éramos educadas com tanta delicadeza e elegância como se frequentássemos uma escola de dança.
Vivi desta maneira até aos 8 anos, idade em que fiquei apavorada com a notícia de que os magistrados (suponho que lhes chamavam assim) tinham ordenado que fosse servir. Com 8 anos pouco podia fazer, a não ser recados ou tornar-me burra de carga de alguma cozinheira, e estas perspectivas, que muitas vezes me haviam repetido, enchiam-me de medo.
