Ela mais parecia uma sombra entre as sombras que a rodeavam. E os seus olhos acabavam sempre por voltar a ela, inquiridores, persistentes, atentos, com uma fixidez quase inconsciente.
Enquanto isso, na sua voz calma e suave, ele conversava com Banford, para quem a tagarelice era tudo no mundo, além de ser dotada de uma aguda curiosidade, qual pássaro saltitante catando aqui e ali. Por outro lado, ele comeu desalmadamente, rápido e voraz, pelo que March teve de ir cortar mais fatias de pão com margarina, por cujo preparo grosseiro Banford se desculpou.
- Oh, tens cada uma! - disse March, saindo repentinamente do seu mutismo. - Se não temos manteiga para lhes pôr, não vale a pena preocuparmo-nos com a elegância das fatias.
O jovem voltou a olhá-la e, subitamente, riu-se, com um riso rápido, sacudido, mostrando assim os dentes sob o nariz franzido. - Lá isso é verdade - respondeu ele, na sua voz suave, insinuante.
Parece que era da Cornualha, nado e criado aí. Ao fazer doze anos, viera para Bailey Farm com o avô, com o qual nunca se dera muito bem. Assim, tivera de fugir para o Canadá, tendo passado a trabalhar longe, no Oeste. Agora voltara e ali estava, eis toda a sua história.
Mostrava-se muito curioso quanto às raparigas, pretendendo saber exatamente em que é que se ocupavam. As questões que lhes punha eram típicas de um jovem fazendeiro: argutas, práticas e um tanto trocistas. Parecia ter ficado muito divertido com a atitude delas face aos prejuízos, pois achava-as particularmente cómicas quanto ao caso das vitelas e das aves.
- Oh, bem vê - interrompeu March-, nós não concordamos em viver só para trabalhar.