Só se sentia totalmente em paz enquanto ele continuasse a ignorá-la, conversando com Banford. Oculta na sombra do seu canto, já não tinha razão para se sentir dividida, para tentar manter vivos dois planos de consciência. Podia finalmente mergulhar por inteiro no odor do raposo.
Pois o jovem, sentado junto à lareira dentro do seu uniforme, enchia a sala de um odor simultaneamente vago mas distinto, um tanto indefinível mas algo semelhante ao de um animal selvagem. March não mais tentou escapar-lhe. Mantinha-se calma e submissa no seu canto, tão quieta e passiva como um qualquer animal na sua toca.
Finalmente, a conversa começou a esmorecer. O jovem, tirando as mãos dos joelhos, endireitou-se um pouco e olhou em volta. E de novo tomou consciência daquela mulher silenciosa, quase invisível no seu canto.
- Bom - disse, algo contrariado -, suponho que é melhor ir andando ou quando chegar ao Cisne já estão todos deitados.
- De qualquer modo, receio que já estejam todos na cama - disse Banford. - Parece que apanharam essa gripe que anda para aí.
- Ah, sim?! - exclamou ele. E ficou alguns instantes pensativo. - Bem - continuou -, em algum lado hei-de arranjar onde ficar.
- Eu ia dizer para cá ficar, só que... - começou Banford.
Virando-se então, ele olhou-a, a cabeça atirada para a frente.
- Como? - perguntou.
- Quero eu dizer, as convenções, sei lá... - explicou ela. Parecia um bocado embaraçada.
- Não seria muito próprio, não é assim? - disse ele, num tom surpreso mas gentil.
- Não pela nossa parte, é claro - respondeu Banford.
- E não pela minha - retorquiu ele, com ingénua gravidade. - Ao fim e ao cabo, de certa forma esta continua a ser a minha casa.
Banford sorriu ao ouvi-lo.