O seu cabelo, de um louro-acastanhado, era um tanto comprido, assentando-lhe na cabeça como um grosso boné, apartado ao lado. Estava ainda em mangas de camisa e, debruçado para a frente sob a luz do candeeiro, com as pernas abertas e o livro na mão, todo o seu ser absorvido no esforço assaz estrénuo da leitura, dava à sala de estar de Banford um ar de quarto de arrumações. E isso irritava-a, ofendia-a. Pois no chão da sala tinha um tapete turco de cor vermelha e franjas negras, a lareira possuía azulejos verdes, de muito bom gosto, o piano estava aberto com a última música de dança encostada ao tampo - ela tocava muito bem, aliás - e nas paredes viam-se cisnes e nenúfares, pintados à mão por March. Além disso, com as achas a arderem trémula e suavemente, o fogo crepitando na grade da lareira, com os espessos cortinados corridos e as portas fechadas, em contraste com o vento que uivava lá fora, fazendo estremecer os pinheiros, a sala era confortável, elegante e bonita. E ela detestava a presença daquele jovem rude, alto e de grandes pernas, as joelheiras de cáqui muito espetadas sob o tecido repuxado, para ali sentado com os punhos da sua camisa de soldado abotoados à volta dos grossos pulsos vermelhaços. De tempos a tempos, ele virava uma página, lançando de ora em vez um rápido olhar ao fogo que ardia e ajeitando as achas. Depois, voltava a mergulhar na solitária e absorvente tarefa da leitura.
March, na ponta mais afastada da mesa, fazia o seu croché de uma forma rápida, sacudida. Tinha a boca estranhamente contraída, como quando sonhara que a cauda do raposo lhe queimava os lábios, o seu belo cabelo negro encaracolado caindo-lhe em madeixas ondulantes.