- Deixa-te disso! «Considerado sinal de má educação»... - exclamou March, algo intempestiva. - Quem é que considera isso sinal de má educação?
- Ora essa, Nellie! Consideras tu! E até agora sempre o disseste em relação a toda a gente!... - disse Banford, empertigando-se um pouco por detrás dos óculos e sentindo a comida atravessar-se-lhe na garganta.
Mas March voltara a ter aquele seu ar vago e ausente, mastigando a comida como se não tivesse consciência de o estar a fazer. E o jovem observava as duas com olhos vivos e atentos.
Banford sentia-se ofendida. Pois, apesar de toda aquela suavidade e cortesia com que ele sempre falava, o jovem parecia-lhe ser mas era um grande descarado. E não gostava de olhar para ele. Não gostava de encarar aqueles olhos claros e vivos, aquele estranho fulgor que sempre tinha no rosto, aquela barba fina e delicada que lhe ornava as faces, aquela pele estupidamente vermelhusca que, contudo, parecia sempre incendiada por um estranho calor de vida. Quase que se sentia doente ao olhar para ele. Pois a qualidade da sua presença física era demasiado penetrante, demasiado ardente.
Depois do chá, o serão era sempre muito calmo. O jovem raramente saía, raramente ia até à aldeia. Por via de regra, costumava ficar a ler, pois era um grande leitor nas horas vagas. Isto é, quando começava, deixava-se absorver totalmente pela leitura. Mas nunca tinha muita pressa de começar. Muitas vezes, saía para dar longos e solitários passeios pelos campos, seguindo rente às sebes, envolto no negrume da noite. Demonstrava um singular instinto pela noite, vagueando, confiante, enquanto escutava os sons selvagens que lhe chegavam.
Contudo, naquela noite, tirou um livro do capitão Mayne Reid da estante de Banford e, sentando-se de joelhos escarranchados, mergulhou na leitura da história.