Era um belíssimo macho em pleno apogeu, revestido da sua magnífica pelagem de Inverno, espessa e farta, com uma bonita cor vermelho-dourada, tornando-se acinzentada ao passar para o ventre, este já de um branco alvíssimo. Na cauda, comprida e abundante, predominavam o preto e o cinzento, delicada amálgama que morria ao chegar à ponta, de um branco imaculado.
- Pobre animal! - disse Banford. - Se não fosse tão patifório, tão ladrão, era caso para ter pena dele.
March nada disse, quedando-se, absorta, com todo o seu peso assente num só pé, a anca saliente, o outro pé a arrastar, abandonado e indolente. As faces pálidas, abria os seus grandes olhos negros, como que hipnotizada pela visão do corpo morto do animal, suspenso de cabeça para baixo. Tinha o ventre tão branco, tão macio... Lembrava a branca alvura da neve, pensou ela. E passou-lhe docemente a mão por cima. A cauda, de um regro maravilhoso, resplandecente, era farta, roçagante, uma maravilha! E, passando-lhe também a mão por cima, sentiu-se estremecer. Repetidas vezes, mergulhou os dedos por entre a abundante pelagem da cauda, espessa e farta, percorrendo-a depois com a mão num lento movimento descendente. Que cauda maravilhosa, tão afilada e espessa, tão bela e resplandecente! E ei-lo ali morto! Os olhos escuros e ausentes, franziu a boca num esgar, os lábios contraídos. Depois, tomou então aquela cabeça nas mãos, quedando-se, absorta.
Henry andava por ali, de um lado para o outro, pelo que Banford acabou por se ir embora, virando-lhe ostensivamente as costas. March, com a cabeça do raposo nas mãos, ficou ali imóvel, mente perturbada e confusa. Estava pensativa, admirando aquele comprido focinho, alongado e esguio. Por qualquer razão, este lembrava-lhe uma colher ou uma espátula.