- Nunca pensei que alguma vez te atrevesses a sair a esta hora da noite, Nellie! gritou Banford.
- Não faz mal, é só por um minuto - disse o rapaz, voltando os olhos para ela e falando-lhe num estranho tom de voz, quase que num uivo, agudo e sibilante.
March olhava ora para um ora para outro, parecendo abstracta e confusa. Banford levantou-se então por sua vez, preparando-se para a luta.
- Ora esta, mas isso é ridículo! Está um frio de rachar! Tu ainda acabas por morrer gelada com esse vestido tão fino. E ainda por cima com esses sapatecos que não aquecem nada. Não te admito que faças uma coisa dessas, ouviste?
Houve uma pequena pausa. Banford, toda encrespada, mais parecia um galo de briga, fazendo frente a March e ao rapaz.
- Oh, não acho que tenha de se preocupar - retorquiu ele. - Uns instantes ao relento nunca fizeram mal a ninguém. Vou buscar a manta que está em cima do sofá da sala de jantar. Vamos andando, Nellie?
Havia na sua voz tanta raiva, desprezo e fúria quando falava com Banford quanto de ternura e orgulhosa autoridade ao dirigir-se a March. Então esta disse:
- Sim, vamos andando.
E, virando costas, dirigiu-se com ele para a porta.
Banford, de pé no meio da sala, irrompeu de súbito em grande pranto, gritando e soluçando convulsivamente, o corpo sacudido por espasmos. Cobrindo o rosto com as suas pobres mãos, finas e delicadas, os ombros magros agitados por um tremor agónico, chorava desabaladamente. Já a chegar à porta, March olhou então para trás.
- Jill! - gritou ela fora de si, num tom desvairado, como alguém que desperta de repente. E deu a impressão de querer correr para junto da sua querida amiga.