E, ao ouvir o que o velhote dissera, o seu rosto jovem, afogueado e vermelho, pareceu incendiar-se num súbito fulgor faiscante, brilhando, luminoso, à luz crua daquela dia frio.
- Oh, estão todos aqui! - disse então ele, soltando aquele seu riso de cachorrinho, rápido e breve. Sentia-se tão afogueado e tonto de tanto pedalar que mal sabia onde estava. Encostando a bicicleta à vedação, saltou então por ela. Depois, sem entrar no pátio, trepou até ao canto onde ficava o talude.
- Bem, devo dizer que não estávamos à sua espera - disse Banford, lacónica.
- Sim, parece-me bem que não - respondeu ele, olhando para March.
Esta estava um pouco afastada, mantendo-se de pé com um joelho dobrado, um ar ausente no rosto inexpressivo, o machado pendendo-lhe da mão num gesto de abandono, com a ponta apoiada no chão. Tinha os olhos muito abertos, vazios e abstractos, com o lábio superior levantado e os dentes à mostra, dando-lhe aquele estranho ar de coelho, misto de fascínio e desalento. No exacto momento em que vira aquele rosto rubro e coruscante, tudo acabara para ela. Sentia-se tão indefesa como se estivesse amarrada de pés e mãos. Sim, no exacto momento em que vira a forma como aquela cabeça parecia adiantar-se, atirada para a frente, tudo acabara para ela.
- Bom, mas afinal quem é? Então, não me dizem quem é? - perguntou o velhote, sorridente e trocista, naquele seu tom resmungado.
- Ora essa, pai, bem sabe quem é. É o senhor Grenfel, de quem já nos ouviu falar respondeu friamente Banford.
- Sim, acho que sim, já te ouvi falar dele.
Mas, à parte isso, não sei praticamente nada a seu respeito - resmungou o ancião, com aquele seu curioso risinho sarcástico espelhado no rosto. - Como está? - acrescentou depois, estendendo subitamente a mão a Henry.