Das janelas, Jacinto, com o braço estendido, saboreava aquela atividade e aquela disciplina:
- Vê tu, Zé Fernandes, que facilidade!... Saímos do 202, chegamos à serra, encontramos o 202. Não há senão Paris!
Recomeçara a amar a Cidade, o meu Príncipe, enquanto preparava o seu Êxodo. Depois de ter, toda a manhã, apressado os encaixotadores,
descortinado confortos novos para o abandonado solar, telefonado gordas listas de encomendas a cada loja de Paris - era com delícia que se vestia, se perfumava, se floria, se enterrava na vitória ou saltava para a almofada do faetonte, e corria ao Bosque, e saudava a barba talmúdica do Efraim, e os bandós furiosamente negros da Verghane, e o psicólogo de fiacre, e a condessa de Trèves na sua nova caleche de oito molas fornecida pelas operações conjuntas da Bolsa e da Alcova. Depois arrebanhava amigos para jantares de surpresa no Voisin ou no Bignon, onde desdobrava o guardanapo com a impaciência de uma fome alegre, vigiando fervorosamente que os Bordéus estivessem bem aquecidos e os Champagnes bem granitados. E no teatro das Nouveautés, no Palais Royal, nos Buffos, ria, batendo na coxa, com encanecidas facécias de encanecidas farsas, antiquíssimos trejeitos de antiquíssimos atores, com que já rira na sua infância, antes da guerra, sob o segundo Napoleão!
De novo, em duas semanas, se abarrotaram as páginas da sua agenda. A magnificência do seu traje, como imperador Frederico II de Suábia, deslumbrou, no baile mascarado da princesa de Cravon-Rogan (onde também fui, de «moço de forcado»). E na Associação para o Desenvolvimento das Religiões Esotéricas discursou e batalhou bravamente pela construção de um templo budista em Montmartre!
Com espanto meu recomeçou também a conversar, como nos tempos de Escola, da «famosa Civilização nas suas máximas proporções».