Esteban Castillo, ruidoso e rubicundo conviva do 202! Jacinto corria os dedos ansiosos pela face: «E os sacos, as peles, os livros, quem os transportaria do salão de Irun para o salão de Salamanca?» Eu berrava, desesperado, que os carregadores de Medina eram os mais rápidos, os mais destros de toda a Europa! Ele murmurava: - Pois sim, mas em Espanha, de noite!... - A noite, longe da Cidade, sem telefone, sem luz elétrica, sem postos de polícia, parecia ao meu Príncipe povoada de surpresas e assaltos. Só acalmou depois de verificar no Observatório Astronómico, sob a garantia do sábio professor Bertrand, que a noite da nossa jornada era de lua cheia!
Enfim, na sexta-feira, findou a tremenda organização daquela viagem histórica! O sábado predestinado amanheceu com generoso sol, de afagadora doçura. E eu acabava de guardar na mala, embrulhadas em papel pardo, as fotografias das criaturinhas suaves que, nesses vinte e sete meses de Paris, me tinham chamado «mon petit chou! mon rat chéri!» - quando Jacinto rompeu pelo quarto, com um soberbo ramo de orquídeas na sobrecasaca, pálido e todo nervoso.
- Vamos ao Bosque, por despedida? Fomos - à grande despedida! E que encanto! Até nas almofadas e molas da vitória senti logo uma elasticidade mais embaladora. Depois, pela Avenida do Bosque, quase me pesava não ficar sempiternamente rolando, ao trote rimado das éguas perfeitas, no rebrilho rico de metais e vernizes, sobre aquele macadame mais alisado que mármore, entre tão bem regadas flores e relvas de tão tentadora frescura, cruzando uma Humanidade fina. de elegância bem acabada, que almoçara o seu chocolate em porcelanas de Sèvres ou de Minton, saíra de entre sedas e tapetes de três mil francos, e respirava a beleza de Abril com vagar, requinte e pensamentos ligeiros! O Bosque resplandecia numa harmonia de verde, azul e ouro.