O meu Príncipe então recaiu nas almofadas:
- Que aventura, Zé Fernandes!
Até Chartres, em silêncio, folheámos as ilustrações. Em Orléans, o guarda veio arranjar respeitosamente as nossas comas. Derreado com aqueles catorze meses de Civilização, adormeci - e só acordei em Bordéus quando Grilo, zeloso, nos trouxe o nosso chocolate. Fora, uma chuva miudinha pingava molemente de um espesso céu de algodão sujo. Jacinto não se deitara, desconfiado da aspereza e da humidade dos lençóis, E, metido num roupão de flanela branco, com a face arrepiada e estremunhada, ensopando um bolo no chocolate, rosnava sombriamente:
- Este horror!... E agora com chuva! Em Biarritz, ambos observámos com uma certeza indolente: - É Biarritz. Depois Jacinto, que espreitava pela janela embaciada, reconheceu o lento caminhar pernalto, o nariz bicudo e triste. do historiador Danjon. Era ele, o facundo homem, vestido de xadrezinho, ao lado de uma dama roliça que levava pela trela uma cadelinha felpuda. Jacinto baixou a vidraça violentamente, berrou pelo historiador, na ânsia de comunicar ainda, através dele, com a Cidade, com o 202!.... Mas o comboio mergulhara na chuva e névoa.
Sobre a ponte do Bidassoa, antevendo o termo da vida fácil, os abrolhos da Incivilização, Jacinto suspirou com desalento:
- Agora adeus, começa a Espanha!... Indignado, eu, que já saboreava o generoso ar da terra bendita, saltei para diante do meu Príncipe, e num saracoteio de tremendo salero, castanholando os dedos, entoei uma petenera condigna:
A la puerta de mi casa Ay Soledad, Soleda...á...á...á.
Ele estendeu os braços, suplicante: - Zé Fernandes, tem piedade do enfermo e do triste! - Irun! Irun!... Nessa Irun almoçámos com suculência - porque sobre nós velava, como deusa omnipresente, a Companhia do Norte.