Na enorme lareira, onde se aqueciam e assavam as suas grossas peças de porco e boi os Jacintos medievais, agora desaproveitada pela frugalidade dos caseiros, negrejava um poeirento montão de cestas e ferramentas; e a claridade toda entrava por uma porta de castanho, escancarada sobre um quintalejo rústico em que se misturavam couves lombardas e junquilhos formosos. Em roda do lume um bando alvoroçado de mulheres depenava frangos, remexia as caçarolas, picava a cebola, com um fervor afogueado e palreiro. Todas emudeceram quando aparecemos - e de entre elas o pobre Melchior, estonteado, com o sangue a espirrar na nédia face de abade, correu para nós, jurando «que o jantarinho de Suas Incelências não demorava um credo»...
- E a respeito de camas, oh amigo Melchior? O digno homem ciciou uma desculpa encolhida «sobre enxergazinhas no chão...» - É o que basta! - acudi eu, para o consolar. - Por uma noite, com lençóis frescos...
- Ali, lá pelos lençoizinhos respondo eu!... Mas um desgosto assim, meu senhor! A gente apanhada sem um colchãozinho de, lã, sem um lombozinho de vaca... Que eu já pensei, até lembrei à minha comadre, Vossas Incelências podiam ir dormir aos Ninhos a casa do Silvério. Tinham lá camas de ferro, lavatórios... Ele sempre é uma leguazita e mau caminho...
Jacinto, bondoso, acudiu: - Não, tudo se arranja, Melchior. Por uma noite!... Até gosto mais de dormir em Tormes, na minha casa da serra!
Saímos ao terreiro, retalho de horta fechado por grossas rochas encabeladas de verdura, entestando com os socalcos da serra onde lourejava o centeio. O meu Príncipe bebeu da água nevada e luzidia da fonte, regaladamente, com os beiços na bica; apeteceu a alface rechonchuda e crespa; e atirou pulos aos ramos altos de uma copada cerejeira, toda carregada de.