Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 8: CAPÍTULO VIII

Página 134
cereja. Depois, costeando o velho lagar, a que um bando de pombas branqueava o telhado, deslizámos até ao carreiro, cortado no costado do monte. E andando, pensativamente, o meu Príncipe pasmava para os milheirais, para os vetustos carvalhos plantados por vetustos Jacintos, para os casebres espalhados sobre os cabeços à orla negra dos pinheirais.

De novo penetrámos na avenida de faias e transpusemos o portão, senhorial entre o latir dos cães, mais mansos, farejando um dono. Jacinto reconheceu «certa nobreza» na frontaria do seu lar. Mas sobretudo lhe agradava a longa alameda, assim direita e larga, como traçada para nela se desenrolar uma cavalgada de senhores com plumas e pajens. Depois, de cima da varanda, reparando na telha nova da capela, louvou o Silvério, «esse ralaço», por cuidar ao menos da morada do Bom Deus.

- E esta varanda também é agradável - murmurou ele mergulhando a face no aroma dos cravos. - Precisa grandes poltronas, grandes divãs de verga...

Dentro, na «nossa sala», ambos nos sentámos nos poiais da janela, contemplando o doce sossego crepuscular que lentamente se estabelecia sobre vale e monte. No alto tremeluzia uma estrelinha, a Vénus diamantina, lânguida anunciadora da noite e dos seus contentamentos. Jacinto nunca considerara demoradamente aquela estrela, de amorosa refulgência, que perpetua no nosso Céu católico a memória da deusa incomparável - nem assistira jamais, com a alma atenta, ao majestoso adormecer da Natureza. E este enegrecimento dos montes que se embuçam em sombra; os arvoredos emudecendo, cansados de sussurrar; o rebrilho dos casais mansamente apagado, o cobertor de névoa,

sob que se acama e agasalha a frialdade dos vales; um toque sonolento de sino que rola pelas quebradas; o segredado cochichar das águas e das relvas escuras - eram para ele como iniciações.

<< Página Anterior

pág. 134 (Capítulo 8)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Cidade e as Serras
Páginas: 238
Página atual: 134

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 26
CAPÍTULO IV 41
CAPÍTULO V 62
CAPÍTULO VI 75
CAPÍTULO VII 88
CAPÍTULO VIII 105
CAPÍTULO IX 144
CAPÍTULO X 177
CAPÍTULO XI 188
CAPÍTULO XII 195
CAPÍTULO XIII 201
CAPÍTULO XIV 212
CAPÍTULO XV 220
CAPÍTULO XVI 223