E já não deslizava a mão desencantada sobre a face - mas batia com ela triunfalmente na coxa. Que sei? Era um Jacinto novíssimo. E quase me assustava, por eu ter de aprender e penetrar, neste novo Príncipe, os modos e as ideias novas.
- Caramba, Jacinto, mas então...? Ele encolheu jovialmente os ombros realargados. E só me soube contar, trilhando soberanamente com os sapatos brancos e cobertos de pó o soalho remendado, que, ao acordar em Tormes, depois de se lavar numa dorna, e de enfiar a minha roupa branca, se sentira de repente como desanuviado, desenvencilhado! Almoçara uma pratada de ovos com chouriço, sublime. Passeara por toda aquela magnificência da serra com pensamentos ligeiros de liberdade e de paz. Mandara ao Porto comprar uma cama, uns cabides... E ali estava...
- Para todo o Verão? - Não! Mas um mês... Dois meses! Enquanto houver chouriços, e a água da fonte, bebida pela telha ou numa folha de couve, me souber tão divinamente!
Cal sobre a - cadeira de verga, e contemplei, arregalado, quase esgazeado, o meu Príncipe! Ele enrolava numa mortalha tabaco picado, tabaco grosso, guardado numa malga vidrada. E exclamava:
- Ando aí pelas terras desde o romper da alva! Pesquei já hoje quatro trutas, magníficas... Lá em baixo, no Naves, um riachote que se atira pelo vale da Seranda... Temos logo ao jantar essas trutas!
Mas eu, ávido pela história daquela ressurreição: - Então, não estiveste em Lisboa?... Eu telegrafei... - Qual telégrafo! Qual Lisboa! Estive lá em cima, ao pé da fonte da Lira, à sombra de uma grande árvore, subtegmine não sei quê, a ler esse adorável Virgílio... E também a arranjar o meu palácio! Que te parece, Zé Fernandes? Em três semanas, tudo soalhado, envidraçado, caiado, encadeirado!... Trabalhou a freguesia inteira! Até eu pintei, com uma imensa brocha.