Viste o comedouro?
- Não. - Então vem admirar a beleza na simplicidade; bárbaro! Era a mesma onde nós tanto exaltáramos o arroz com favas - mas muito esfregada, muito caiada, com um rodapé besuntado de azul estridente, onde logo adivinhei a obra do meu Príncipe, Uma toalha de linho de Guimarães cobria a mesa, com as franjas roçando o soalho. No fundo dos pratos de louça forte reluzia um galo amarelo. Era o mesmo galo e a mesma louça em que na nossa casa, em Guiães, se servem os feijões aos cavadores...
Mas no pátio os cães latiram. E Jacinto correu à varanda, com uma ligeireza curiosa que me deleitou. Ali, bem definitivamente se esfrangalhara aquela rede de malha que se não percebia e que outrora o travava! - Nesse momento apareceu o Grilo, de quinzena de linho, segurando em cada mão uma garrafa de. vinho branco. Todo se alegrou «em ver na quinta o siô Fernandes». Mas a sua veneranda face já não resplandecia, como em Paris, com um tão sereno e ditoso brilho de ébano. Até me pareceu que corcovava... Quando o interroguei sobre aquela mudança, estendeu duvidosamente o beiço grosso:
- O menino gosta, eu então também gosto... Que o ar aqui é muito bom, siô Fernandes, o ar é muito bom!
Depois, mais baixo, envolvendo num gesto desolado a louça de Barcelos, as facas de cabo de osso, as prateleiras de pinho como num refeitório de franciscanos:
- Mas muita magreza, siô Fernandes, muita magreza! Jacinto voltava com um maço de jornais cintados: - Era o carteiro. já vês que não amuei inteiramente com a Civilização. Eis a Imprensa!... Mas nada de «Figaro», ou da horrenda «Dois Mundos»! jornais de agricultura! Paraaprender como se produzem as risonhas messes, e sob que signo se casa a vinha ao olmo, e que cuidados necessita a abelha provida.