A Cidade e as Serras - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 151 / 238

Lentamente, gozando a frescura, o silêncio, a liberdade do vasto casarão, retrocedemos à sala que Jacinto já denominara a «Livraria». E, de repente, ao avistar num canto uma caixa com a tampa meio despregada, quase me engasguei, na furiosa curiosidade que me assaltou:

- E os caixotes? Oh Jacinto?... Toda aquela imensa caixotaria que nós mandámos, abarrotada de Civilização? Soubeste? Apareceram?

O meu Príncipe parou, bateu alegremente na coxa: - Sublime! Tu ainda te lembras daquele homenzinho, de saco a tiracolo, que nós admirámos tanto pela sua sagacidade, o seu saber geográficos?... Lembras? Apenas falei em Tormes, gritou que conhecia, rabiscou uma nota... Nem era necessário mais! «Oh! Tormes, perfeitamente, muito antigo, muito curioso!» Pois mandou tudo para Alba-de-Tormes, em Espanha! Está tudo em Espanha!

Cocei o queixo, desconsolado: - Ora, ora... Um homem tão esperto, tão expedito, que fazia tanta honra ao Progresso! Tudo para Espanha!... E mandaste vir?

- Não! Talvez mais tarde... Agora, Zé Fernandes, estou saboreando esta delícia de me erguer pela manhã, e de ter só uma escova para alisar o cabelo.

Considerei, cheio de recordações, o meu amigo: - Tinhas umas nove. - Nove? Tinha vinte! Talvez trinta! E era uma atrapalhação, não me bastavam!... Nunca em Paris andei bem penteado. Assim com os meus setenta mil volumes: eram tantos que nunca li nenhum. Assim com as minhas ocupações: tanto me sobrecarregavam, que nunca fui útil!

De tarde, depois da calma, fomos vaguear pelos caminhos coleantes daquela quinta rica, que, através de duas léguas, ondula por vale e monte. Não me encontrara mais com Jacinto em meio da Natureza, desde o remoto dia de entremez em que ele tanto sofrera no sociável e policiado bosque de Montmoreney.





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