ossos dos velhos Jacintos - dos respeitáveis ossos» como murmurava, cumprimentando, o bom Silvério, o procurador, nessa manhã de sexta-feira, em que almoçava connosco, metido num espantoso jaquetão de veludilho, amarelo debruado de seda azul! A cerimónia, de resto, reclamava muita singeleza por serem tão incertos, quase impessoais, aqueles restos, que nós estabeleceríamos na capelinha do vale da Carriça, na capelinha toda nova, toda nua e toda fria, ainda sem alma e sem calor de Deus.
- Porque enfim Vossa Excelência compreende - explicava o Silvério passando o guardanapo por sobre a larga face suada e por sobre as imensas barbas negras, como as de um turco, - naquela mixórdia... Oh! peço desculpa a Vossa Excelência! Naquela confusão, quando tudo desabou, não pudemos mais conhecer a quem pertenciam os ossos. Nem sequer, falando verdade, nós sabíamos bem que dignos avós de Vossa Excelência jaziam na capela velha, assim tão antigos, com os letreiros apagados, senhores de todo o nosso respeito, certamente, mas, se Vossa Excelência me permite, senhores já muito desfeitos... Depois veio o desastre a mixórdia. E aqui está o que decidi, depois de pensar. Mandei arranjar tantos caixões de chumbo, quantas as caveiras que se apanharam lá em baixo na Carriça, entre o lixo e o pedregulho. Havia sete caveiras e meia. Quero dizer, sete caveiras e uma caveirinha pequenina. Metemos cada caveira no seu caixão. Depois... Que quer Vossa Excelência? Não havia outro meio! E aqui o Sr. Fernandes dirá se não acha que procedemos com habilidade. A cada caveira juntámos uma certa porção de ossos, uma porção razoável... Não havia outro meio... Nem todos os ossos se acharam. Canelas, por exemplo, faltavam! E é bem possível que as costelas de um daqueles senhores ficassem com a cabeça de outro.