.. Pois estamos lá em tempos de se falar em fidalguias, agora que por toda a parte anda tudo em República? Leia o «Século», Sr. Fernandes!, leia o «Século», e verá! E depois eu sempre quero ver o Sr. D. Jacinto, aqui no Inverno, com o nevoeiro a subir do rio logo pela manhã, e a friagem a trespassar os ossos, e ventanias que atiram carvalheiras de raízes ao ar, e chuvas e chuvas que se desfaz a serra!... Olhe, até mesmo por amor da saúde o Sr. D. Jacinto, que é fraquinho e acostumado à cidade, necessita sair da serra. Em Montemor, em Montemor é que Sua Excelência estava bem. E o Sr. Fernandes, tão amigo dele e assim com tanta influência, devia teimar, e berrar, até que o levasse para Montemor.
Mas, infelizmente para a quietação do Silvério, Jacinto lançara raízes, e rijas, e amorosas raízes na sua rude serra. Era realmente como se o tivessem plantado de estaca naquele antiquíssimo chão, donde brotara a sua raça, e o antiquíssimo húmus refluísse e o penetrasse todo, e o andasse transformando num Jacinto rural, quase vegetal, tão do chão, e preso ao chão, como as árvores que ele tanto amava.
E depois o que o prendia à serra era o ter nela encontrado o que na Cidade, apesar da sua sociabilidade, não encontrara nunca, - dias tão cheios, tão deliciosamente ocupados, de um tão saboroso interesse, que sempre penetrava neles como numa festa ou numa glória.
Logo de manhã, às seis horas, eu, no meu quarto, mexendo ainda regaladamente o meu corpo nos colchões de fresco folhelho, sentia os seus rijos sapatões pelo corredor, e o seu cantarolar, desafinado, mas ditoso como o de um melro. Em poucos instantes escancarava com fragor a minha porta, já de chapéu desabado, já de bengalão, de cerejeira, disposto com reservado fervor para os trilhos conhecidos da serra.