.. E como pode ser obra que se pegue, bexigas ou coisa que o valha, pensei comigo: «Nada, o seguro morreu de velho!» Meti para o alpendre... E não passara um credo quando lobriguei a Vossa Excelência... Coisa assim!... E o Sr. D. Jacinto é voltar para casa, e mudar-se, que temos um dia e uma noite de água.
Mas, justamente, a chuva começara a cair perpendicular, - de um céu ainda negro, onde o vento se calara; e para além do rio e dos montes havia uma claridade, como entre cortinas de pano, cinzento que se descerram.
Jacinto repousava. Eu não cessara de me sacudir, de bater os pés encharcados, que me arrefeciam. E o bom Silvério, passando a mão pensativa sobre o negrume das suas barbas, refletia, emendava os seus prognósticos:
- Pois, não senhor... Ainda estia! Nunca pensei. É que tornejou o vento. O alpendre que nos cobria assentava sobre duas paredes em ângulo, de pedra solta, restos de algum casebre desmantelado, e sobre um esteio fazendo cunhal. Nesse momento só abrigava madeira, um cuculo de cestos vazios, e um carro de bois, onde o meu Príncipe se, sentara, enrolando um cigarro confortador. A chuva desabava, copiosa, em longos fios reluzentes. E todos três nos calávamos, naquela contemplação inerte e sem pensamento, em que uma chuva grossa e serena sempre imobiliza e retém olhos e almas.
- Ó Sr. Silvério, - murmurou lentamente o meu Príncipe - que é que o senhor esteve aí a dizer de bexigas?
O procurador voltou a face surpreendido: - Eu, Excelentíssimo Senhor?... Ali sim! a mulher do Esgueira! É que pode ser, pode ser... Não imagine Vossa Excelência que faltam por cá doenças. O ar é bom. Não digo que não! Arzinho são, aguazinha leve, mas às vezes, se Vossa Excelência me dá licença, vai por aí muita maleita.
- Mas não há médico, não há botica? O Silvério teve o riso superior de quem habita regiões civilizadas e bem providas.