- Então não havia de haver? Pois há um boticário, em Guiães, lá quase ao pé da casa aqui do nosso amigo.
E homem entendido... o Firmino, hem, Sr. Fernandes? Homem capaz. Médico é o Dr. Avelino, daqui a légua e meia, nas Bolsas. Mas já Vossa Excelência vê, esta gentinha é pobre!... Tomaram eles para pão, quanto mais para remédios!
E de novo se estabeleceu um silêncio, sob o alpendre, onde penetrava. a friagem crescente da serra. encharcada. Paraalém do rio, a prometedora claridade não se alargara entre as duas espessas cortinas pardacentas. No campo, em declive diante de nós, ia um longo correr de ribeiros barrentos. Eu terminara por me sentar na ponta de um madeiro, enervado, já com a fome aguçada pela manhã agreste. E Jacinto, na borda do carro, com os pés no ar, cofiava os bigodes húmidos, palpava a face, onde, com espanto meu, reaparecera a sombra, a sombra triste dos dias passados, a sombra do 202!
E, então, surdiu por trás da parede do alpendre um rapazito, muito rotinho, muito magrinho, com uma carita miúda, toda amarela sob a porcaria, e onde dois grandes olhos pretos se arregalavam para nós, com vago pasmo e vago medo. Silvério imediatamente o conheceu.
Como vai a tua mãe? Escusas de te chegar para cá, deixa-te estar aí. Eu ouço bem. Como vai a tua mãe?
Não percebi o que os pobres beicitos descorados murmuraram. Mas Jacinto, interessado:
- Que diz ele? Deixe vir o rapaz! Quem é a tua mãe? Foi o Silvério que informou respeitosamente: - É a tal mulher que está doente, a mulher do Esgueira, ali do casal da figueira. E ainda tem outro abaixo deste... Filharada não lhe falta.
- Mas este pequeno também parece doente! - exclamou Jacinto. - Coitadito, tão amarelo... Tu também estás doente?
O rapazinho emudecera, chupando o dedo, com os tristes olhos pasmados.