Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: CAPÍTULO X

Página 182

- Não! Vossa Excelência lá na casa do Esgueira não entra! Não se sabe o que a mulher tem, e o seguro morreu de velho!

Jacinto não se alterou na sua polidez paciente: - Obrigado pelo seu cuidado, Silvério. Abra o guarda-chuva, e marche! Então o procurador vergou os ombros e como Sua Excelência mandava, abriu com estrondo o imenso guarda-sol, abrigou respeitosamente Jacinto, através do campo encharcado.

Eu segui pensando na esmola sumptuosa que o bom Deus mandava àquele pobre casal por um remoto senhor das Cidades! Atrás vinha o pequenito perdido num imenso pasmo.

Como todos os casebres da serra, o do Esgueira era de grossa pedra solta, sem reboco, com um vago telhado, de telha musgosa e negra, um postigo no alto, e a rude porta que servia para o ar, para a luz, para o fumo, e para a gente. E em redor, a Natureza e o Trabalho tinham, através de anos, ali acumulado trepadeiras e flores silvestres, e cantinhos de horta, e sebes cheirosas, e velhos bancos roídos de musgo, e panelas com terra onde crescia salsa, e regueiros cantantes, e vinhas nos olmos, e sombras e charcos, que tornavam deliciosa, - para uma écloga, aquela morada da Fome, Doença e Tristeza.

Cautelosamente, com a ponteira do guarda-chuva, Silvério empurrou a porta, chamando:

- Eh! tia Maria... Ó rapariga! E na fenda entreaberta apareceu uma rapariga, muito alta, escura e suja, com uns tristes olhos pisados que se espantaram para nós, serenamente.

- Então como vai a tua mãe? Abre lá a porta, que estão aqui estes senhores... Ela abria, lentamente, e ia murmurando numa voz dolente e toda arrastada mas sem queixume, que um vago, resignado sorriso acompanhava:

- Ora, coitada, como há de ir? Malzinha, malzinha. E dentro, num gemido que subia como do chão, de entre abafos, amodorrado e lento, a mãe retomou a desconsolada queixa:

- Ai! para aqui estou, e malzinha, malzinha!.

<< Página Anterior

pág. 182 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Cidade e as Serras
Páginas: 238
Página atual: 182

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 26
CAPÍTULO IV 41
CAPÍTULO V 62
CAPÍTULO VI 75
CAPÍTULO VII 88
CAPÍTULO VIII 105
CAPÍTULO IX 144
CAPÍTULO X 177
CAPÍTULO XI 188
CAPÍTULO XII 195
CAPÍTULO XIII 201
CAPÍTULO XIV 212
CAPÍTULO XV 220
CAPÍTULO XVI 223