Pouco a pouco, aí também criaria uma biblioteca, com livros de estampas, para entreter, aos domingos, os homens a quem já não era possível ensinar a ler. Eu vergava os ombros, pensando: «Aí vem a terrível acumulação das Noções! Eis o Livro invadindo a Serra!» Mas outras ideias de Jacinto eram tocantes, - e eu mesmo me entusiasmei, e excitei o entusiasmo da tia Vicência com o seu plano de uma creche, onde ele esperava ter manhãs muito divertidas vendo as criancinhas a gatinhar, a correr tropegamente atrás de uma bola. De resto, o nosso boticário de Guiães já estava apalavrado para estabelecer uma pequena farmácia em Tormes, sob a direção do seu aprendiz, um afilhado da tia Vicência, que tinha publicado um artigo sobre as festas populares do Douro no «Almanaque de Lembranças». E já fora oferecido o partido médico de Tormes, com um ordenado de seiscentos mil réis.
- Não te falta senão um teatro! - dizia eu, rindo a Jacinto. - Um teatro, não. Mas tenho a ideia de uma sala, com projeções de lanterna mágica, para ensinar a esta pobre gente as cidades desse mundo, e as coisas de África, e um bocado de História.
Eh caramba! também eu me entusiasmei com esta ideia! - E quando a contei ao tio Adrião, o digno antiquário bateu, apesar do seu reumatismo, uma palmada tremenda na coxa, «Sim, senhor! Bela ideia! Assim se podia ensinar àquela gente iletrada, vivamente. por imagens, a História Santa, a História Romana, até a História de Portugal!...» E voltado para a prima Joaninha, o tio Adrião declarou Jacinto um «homem de coração!»
E realmente pela serra crescia a popularidade do meu Príncipe. Naquele «Guarde-o Deus, meu senhor!» com que as mulheres ao passar o saudavam, se voltavam... para o ver ainda, havia uma seriedade de oração, o bem sincero desejo de que Deus o guardasse sempre.