- O Sr. D. Teotónio foi muito amável em vir, Jacinto, Raras vezes sai da sua linda casa da Abrujeira.
O Digno sorriu, cofiando os espessos bigodes brancos, de velho brigadeiro: - Vossa Excelência chegou diretamente de Viena? Não! Jacinto viera diretamente de Paris, com o amigo Zé Fernandes. D. Teotónio insistiu:
- Mas certamente visita muitas vezes Viena... Jacinto sorria surpreendido: - Viena, porquê?... Não. Há mais de quinze anos que não vou a Viena. O fidalgo murmurou um lento «Ah!» e ficou calado, de pálpebras baixas, como revolvendo análises profundas, com as mãos cruzadas sob as abas da longa sobrecasaca azul.
Eu então, que vigiava, lancei o Dr. Alípio: - O nosso doutor, meu caro Jacinto, é o mais poderoso influente de todo o distrito. O doutor curvou a cabeça bem feita, com um belo cabelo preto, admiravelmente alisado e lustroso - a tia Vicência, que se erguera do sofá, chamava o meu Príncipe, porque o Manuel anunciara o jantar, mudamente, mostrando apenas, à porta da sala, a sua corpulenta pessoa, muito tesa e muito vermelha.
À mesa (onde os pudins, as travessas de doces de ovos, os antigos vinhos de Madeira e Porto, nas suas pesadas garrafas de cristal, fundiam com felicidade os seus tons ricos e quentes), Jacinto ficou entre a tia Vicência e uma das Rojões, a Luisinha, sua afilhada, que, por costume velho quando jantava em Guiães, sempre se colocava à sombra da sua boa madrinha; - e a sopa, que era de galinha com macarrão e arroz, foi comida num tão largo, pesado silêncio que eu, na ânsia de o quebrar, exclamei, ao acaso, sem pensar que me achava em Guiães, à minha mesa:
- Está deliciosa, esta sopa! Jacinto ecoou: - Divina! Mas como todos os convidados certamente estranharam este meu brado, e o pasmo excessivo de Jacinto, o silêncio, carregado de estranheza, mais se carregou de embaraço.