Felizmente, a tia Vicência, com aquele seu bom sorriso, observou que Jacinto parecia gostar das nossas comidas portuguesas... E eu, sempre no intuito de animar, nem deixei que o meu Príncipe confirmasse o seu amor da cozinha vernácula, gritei:
- Como gosta? Mas é que delira! Pudera! Tanto tempo em Paris, privado!... E como, ditosamente, me lembrara o prato de arroz-doce preparado no natalício de Jacinto, pelo cozinheiro do 202, contei logo a história, profusamente, exagerando, afirmando que o arroz-doce continha foie gras, e que sobre a sua ornamentada pirâmide flutuava a bandeira tricolor, por cima do busto do conde de Chambord! Mas o arroz-doce, assim estragado, tão longe da serra, não interessava, apenas puxou alguns sorrisos de polida condescendência, quando eu, alternadamente, me voltei para um cavalheiro, para uma senhora, insistindo, exclamando: - Extraordinário, hem? D. Teotónio observou, misteriosamente, que «o cozinheiro sabia para quem cozinhava». E a bela mulher do Dr. Alípio ousou murmurar, corando:
- Havia de ser bonito prato, e talvez não fosse mau! Eu então logo (ai de mim, para animar) ataquei com desabrida alegria a Sra. D. Luísa, por ela assim defender a profanação do nosso grande prato nacional! Mas, ai de mim, tão excessiva e ruidosamente interpelei a formosa senhora, que ela se enconchou, emudeceu, toda corada, e mais formosa. E outro silêncio se abatia sobre a mesa, como uma névoa, quando a tia Vicência, providencial, se desculpou para com Jacinto de não ter peixe! Mas quê!, ali na serra era impossível, mesmo a peso de ouro, ter peixe, a não ser a pescada salgada, ou o bacalhau. O excelente Rojão, então, com aquele seu modo, tão suave, que cada sílaba para correr mais docemente parecia lubrificada com óleos santos, lembrou que o Sr.