- Pois, primo e amigo, Deus permita que do nosso encontro, e do mais que se passar, algum bem resulte a esta terra!
Subindo a escada, o meu Príncipe desabafou: - Este Teotónio é extraordinário! Sabes o que descobri por fim?... Que me toma por um miguelista, e imagina que eu vim para Tormes preparar a restauração de D. Miguel?!
- E tu? - Eu fiquei tão espantado, que nem o desiludi! - Pois sabe mais, meu pobre amigo. Todos pensam o mesmo, estão desconfiados, e receiam ver de novo erguidas as forcas em Guiães! E corre que tu tens o príncipe D. Miguel escondido em Tormes, disfarçado em criado. E sabes quem ele é? O Baptista!
- Isso é sublime! - murmurou Jacinto, com uns grandes olhos abertos. Na sala, a tia Vicência ainda nos esperava desconsolada, entre todas as luzes, que ardiam no silêncio e paz do serão debandado:
- Ora uma coisa assim! Nem quererem ficar para tomar um copinho de geleia, um cálice de vinho do Porto!
- Esteve tudo muito desanimado, tia Vicência! - exclamei desafogando o meu tédio. - Todo esse mulherio emudeceu, os amigos com um ar desconfiado...
Jacinto protestou, muito divertido, muito sincero: - Não! Pelo contrário. Gostei imenso. Excelente gente! E tão simples... Todas estas raparigas me pareceram ótimas.
E tão frescas, tão alegres! Vou ter aqui bons amigos, quando verificarem que eu não sou miguelista.
Então contámos à tia Vicência a prodigiosa história de D. Miguel escondido em Tormes... Ela ria! Que coisas! E mau seria...
- Mas o Sr. Jacinto, não é? - Eu, minha senhora, sou socialista... Acudi, explicando à tia Vicência que socialista era ser pelos pobres. A doce senhora considerava esse partido o melhor, o verdadeiro:
- O meu Afonso, que Deus haja, era liberal... Meu pai também, e até amigo do duque da Terceira.