E imediatamente me pareceu que todos esses cinco anos eu ali estivera à porta do Grand-Hotel, tão estafadamente conhecido me era aquele estridente rolar da Cidade, e as magras árvores, e as grossas tabuletas, e os imensos chapéus emplumados sobre tranças pintadas de amarelo, e as empertigadas sobrecasacas com grossas rosetas da Legião de Honra, e os garotos, em voz rouca e baixa, oferecendo baralhos de cartas obscenas, caixas de fósforos obscenas... «Santo Deus!», pensei, «há, que anos eu estou em Paris!» Comprei então, num quiosque, uni jornal, a «Voz de Paris», para que ele me contasse, durante o almoço, as novas da Cidade. A mesa do quiosque desaparecia, alastrada de jornais ilustrados - e em todos se repetia a mesma mulher, sempre nua, ou meio despida, ora mostrando as costelas magras, de gata faminta, ora voltando para o leitor duas tremendas nádegas... Eu murmurei: - Santo Deus! - No Café da Paz, o criado lívido, e com um resto de pó de arroz sobre a lividez, aconselhou ao meu apetite (comera tão tarde) um linguado frito e uma costeleta.
- E que vinho, senhor conde? - Chablis, senhor duque!
Ele sorriu à minha deliciosa pilheria, - e eu abri, contente, a «Voz de Paris». Na primeira coluna, através de uma prosa muito retorcida, toda em brilhos de joia barata, entrevi uma princesa nua, e um capitão de dragões, que soluçava, Saltei a outras colunas, onde contavam feitos de cocottes de nomes sonoros. Na outra página escritores eloquentes celebravam vinhos digestivos e tónicos. Depois eram crimes. - Mo há nada de novo! - Sacudi a «Voz de Paris», - e então foi, entre mim e o linguado, uma luta pavorosa. O miserável, que se frigira rancorosamente contra mim, não consentia que eu descolasse da sua espinha uma febra escassa. Todo ele se ressequira numa sola impenetrável e tostada, onde a faca vergava, impotente e trémula.