Ali, à porta do café, entre a indiferença e a pressa da Cidade, também eu senti, como ele no Campo, a vaga tristeza da minha fragilidade e da minha solidão. Bem certamente estava ali como perdido num mundo que me não era fraternal. Quem me conhecia? Quem se interessaria por Zé Fernandes? se eu sentisse fome, e o confessasse, ninguém me daria metade do seu pão. Por mais aflitamente que a minha face revelasse uma angústia, ninguém na sua pressa pararia para me consolar. De que me serviriam. também as excelências da alma, que só na alma florescem? Se eu fosse um santo, aquela turba não se importaria com a minha santidade, e se eu abrisse os braços e gritasse, ali no Boulevard «Ó homens, meus irmãos!» os homens, mais ferozes que o lobo de Agubio perante o Pobrezinho de Assis, ririam e passariam indiferentes. Dois impulsos únicos, correspondendo a duas funções únicas, parecia estarem vivos naquela multidão, - a do lucro, a do gozo. Isolada entre eles, e ao contágio ambiente da sua influência. em breve a minha alma se contrairia, se tomaria num duro calhau de Egoísmo. Do ser que eu trouxera da Serra, composto com tolerável nobreza, só restaria esse calhau de Egoísmo, e nele,
vivos, os dois apetites de Cidade, - encher a bolsa, saciar a carne! E as mesmas exagerações de Jacinto perante a Natureza me invadiam aplicadas à Cidade. Aquele Boulevard já me ressumava um bafo mortal, exalado dos milhões dos seus micróbios. De cada porta me parecia sair um ardil para me roubar. Em cada face avistada à portinhola de um fiacre, suspeitava um bandido trabalhando, todas as mulheres me pareciam caiadas como sepulcros, tendo só por dentro podridão. E considerava de uma melancolia funambulesca cútis e formas de toda aquela Multidão, a sua pressa esperta