Tentei mover o telefone, que se não moveu; a mola da eletricidade não acendeu nenhum lume: todas as forças universais tinham abandonado o serviço do 202, como servos despedidos. E então, passeando através das salas, realmente me pareceu que percorria um museu de antiguidades, e que mais tarde outros homens, com uma compreensão mais pura e exata da Vida e da Felicidade, percorreriam, como eu, longas salas, atulhadas com os instrumentos da Supercivilização, e, como eu, encolhendo desdenhosamente os ombros perante a grande Ilusão que findara, agora para sempre inútil, arrumada como um lixo histórico, guardado debaixo da lona.
Quando saí do 202 tomei um fiacre, subi ao Bosque de Bolonha. E apenas rolara momentos pela Avenida das Acácias, no silêncio decoroso, apenas cortado pelo tilintar dos freios e pelas rodas vagarosas esmagando a areia, comecei a reconhecer as velhas figuras, sempre com o mesmo sorriso, imóveis, o mesmo pó de arroz, as mesmas pálpebras amortecidas, os mesmos olhos farejantes, na mesma imobilidade de cera! O homem do «Boulevard» passou numa vitória, fixou em mim o binóculo defumado, mas permaneceu indiferente. Os bandós negros de Madame Verghane, tapando-lhe as orelhas, pareciam ainda mais furiosamente negros, entre a harmonia de todo o branco que a vestia, chapéu, `plumas, flores, rendas e corpete, onde o seu peito imenso se empolava como uma onda. No passeio, sob as acácias, espapado em duas cadeiras, o diretor do «Boulevard» mamava o resto do seu charuto. Madame de Trèves continuava o seu sorriso de há cinco anos, com duas pregazinhas mais moles aos cantos dos lábios secos.
Abalei para o Grand-Hotel, bocejando, - como outrora Jacinto. E findei o meu dia de Paris, no Teatro das Variedades, estonteado com uma