.. E ainda se acavalavam outras indicações, escrevinhadas por Jacinto a lápis, - «Carroceiro - Five-ó clock dos Efrains - A pequena das Variedades - Levar a nota ao jornal...» Considerei o meu Príncipe. Estirado no divã, de olhos miserrimamente cerrados, bocejava, num bocejo imenso e mudo.
Mas os afazeres de Jacinto começavam logo no 202, cedo, depois do banho. Desde as oito horas a campainha do telefone repicava por ele, com impaciência, quase com cólera, como por um escravo tardio. E mal enxugado, dentro do seu roupão de pêlo de cabra do Tibete ou de grossos pijamas de pelúcia cor de ouro velho, constantemente saía ao corredor a cochichar com sujeitos tão apressados, que conservavam na mão o guarda-chuva pingando sobre o tapete. Um desses, sempre presente (e que pertencia decerto aos Telefones de Constantinopla), era temeroso - todo ele chupado, tisnado, com maus dentes, sobraçando uma enorme pasta sebenta, e dardejando, de entre a alta gola de uma peliça puída, como da abertura de um covil, dois olhinhos torvos e de rapina. Sem cessar, inexoravelmente, um escudeiro aparecia, com bilhetes numa salva... Depois eram fornecedores de Indústria e de Arte, negociantes de cavalos, rubicundos e de paletó branco, inventores com grossos rolos de papel; alfarrabistas trazendo na algibeira uma edição «única», quase inverosímil, de Ulrich Zell ou do «Lapidanus». Jacinto circulava estonteado pelo 202, rabiscando a carteira, repicando o telefone, desatando nervosamente pacotes, sacudindo ao passar algum emboscado que surdia das sombras da antecâmara, estendia como um trabuco o seu memorial ou o seu catálogo!
Ao meio-dia, um tantã argentino e melancólico ressoava, chamando ao almoço. Com o «Figaro» ou, as «Novidades» abertas sobre o prato,