eu esperava sempre meia hora pelo meu Príncipe, que entrava numa rajada, consultando o relógio, exalando com a face moída o seu queixume eterno:
- Que maçada! E depois uma noite abominável, enrodilhada em sonhos... Tomei sulforal, chamei o Grilo para me esfregar com terebintina... Uma seca!
Espalhava pela mesa um olhar já farto. Nenhum prato por mais engenhoso, o seduzia; - e, como através do seu tumulto matinal fumava incontáveis cigarettes que o ressequiam, começava por se encharcar com um imenso copo de água oxigenada, ou carbonatada, ou gasosa, misturada de um conhaque raro, muito caro, horrendamente adocicado, de moscatel de Sirácusa. Depois, à pressa, sem gosto, com a ponta incerta do garfo, picava aqui e além uma lasca de fiambre, uma febra de lagosta; - e reclamava impacientemente o café, um café de Moka, mandado cada mês por um feitor do Dedjah, fervido à turca, muito espesso, que ele remexia com um pau de canela!
- E tu, Zé Fernandes, que vais tu fazer? - Eu? Recostado na cadeira, com delícias, os dedos metidos nas cavas do colete: - Vou vadiar, regaladamente, como um cão natural! O meu solícito amigo, remexendo o café com o pau de canela, rebuscava através da numerosa Civilização da Cidade uma ocupação que me encantasse. Mas apenas sugeria uma exposição, ou uma conferência, ou monumentos, ou passeios, logo encolhia os ombros desconsolados:
- Por fim nem vale a pena, é uma seca! Acendia outra das cigarettes russas, onde rebrilhava o seu nome, impresso a ouro na mortalha. Torcendo, numa pressa nervosa, os fios do bigode, ainda escutava, à porta da Biblioteca, o seu procurador, o nédio e majestoso Laporté. E enfim, seguido de um criado, que sobraçava um maço tremendo de jornais para lhe abastecer o coupé, o Príncipe da Grã-Ventura mergulhava na Cidade.