Tudo isto era especioso, talvez pueril - mas para mim revelava, naquele chamejante devoto da Cidade, o arrefecimento da devoção. Nessa mesma tarde, se bem recordo, sob uma luz macia e fina, penetrámos nos centros de Paris, nas ruas longas, nas milhas de casario, todo de caliça parda, eriçado de chaminés de lata negra, com as janelas sempre fechadas, as cortininhas sempre corridas, abafando, escondendo a vida. Só tijolo, só ferro, só argamassa, só estuque: linhas hirtas, ângulos ásperos: tudo seco, tudo rígido. E dos chãos aos telhados, por toda a fachada, tapando as varandas, comendo os muros, tabuletas, tabuletas...
- Oh, este Paris, Jacinto, este teu Paris! Que enorme, que grosseiro bazar! E, mais para sondar o meu Príncipe do que - por persuasão, insisti na fealdade e tristeza destes prédios, duros armazéns, cujos andares são prateleiras onde se apinha humanidade! E uma humanidade, impiedosamente catalogada e arrumada! A mais vistosa e de luxo nas prateleiras baixas, bem envernizadas. A reles e de trabalho nos altos, nos desvãos, sobre pranchas de pinho nu, entre o pó e a traça.