..
Jacinto murmurou, com a face arrepiada: - É feio, é muito feio! E acudiu logo, sacudindo no ar a luva de anta: - Mas que maravilhoso organismo, Zé Fernandes! Que solidez! Que produção! Onde Jacinto me parecia mais renegado era na sua antiga e quase religiosa afeição pelo Bosque de Bolonha. Quando era novo, ele construíra sobre o Bosque teorias complicadas e consideráveis. E sustentava, com olhos rutilantes de fanático, que no Bosque a Cidade cada tarde ia retemperar salutarmente a sua força, recebendo, pela presença das suas Duquesas, das suas Cortesãs, dos seus Políticos, dos seus Financeiros, dos seus Generais, dos seus Académicos, dos seus Artistas, dos seus Clubistas, dos seus judeus, a certeza consoladora de que todo o seu pessoal se mantinha em número, em vitalidade, em função, e que nenhum elemento da sua grandeza desaparecera ou deperecera! «Ir ao Bois» constituía então para o meu Príncipe um acto de consciência. E voltava sempre confirmando com orgulho que a Cidade possuía todos os seus astros, garantindo a eternidade da sua luz!
Agora, porém, era sem fervor, arrastadamente, que ele me levava ao Bosque, onde eu, aproveitando a clemência de Abril, tentava enganar a minha saudade de arvoredos. Enquanto subíamos, ao trote nobre das suas éguas lustrosas, a Avenida dos Campos Elísios e a do Bosque, rejuvenescidas pelas relvas tenras e fresco verdejar dos rebentos, Jacinto, soprando o fumo da cigarette pelas vidraças abertas do coupé, permanecia o bom camarada, de veia amável, com quem era doce filosofar através de Paris. Mas logo que passávamos as grades douradas do Bosque, e penetrávamos na Avenida das Acácias, e enfiávamos na lenta fila dos trens de luxo e de praça, sob o silêncio decoroso, apenas cortado pelo tilintar dos freios e pelas rodas vagarosas esmagando a areia, - o meu Príncipe emudecia, molemente engelhado no fundo das almofadas, donde só despegava a face para escancarar bocejos de fartura.