E fui logo acolhido pelo sorriso da condessa de Trèves, que, acompanhada pelo ilustre historiador Danjon (da Academia Francesa), percorria maravilhada os Aparelhos, os Instrumentos, toda a sumptuosa Mecânica do meu supercivilizado Príncipe. Nunca ela me parecera mais majestosa do que naquelas sedas cor de açafrão, com rendas cruzadas no peito à Maria Antonieta, o cabelo crespo e ruivo levantado em rolo sobre a testa dominadora, e o curvo nariz patrício, abrigando o sorriso sempre luzidio, sempre corrente, como um arco abriga o correr e o luzir de um regato. Direita como num sólio, a longa luneta de tartaruga acercada dos olhos miúdos e turvamente azulados, ela escutava diante do Gramofone, depois diante do Microfone, como melodias superiores, os comentários que o meu Jacinto ia atabalhoando com uma amabilidade penosa. E perante cada roda, cada mola,
eram pasmos, louvores finamente torneados, em que atribuía a Jacinto, com astuta candura, todas aquelas invenções do Saber! Os utensílios misteriosos que atulhavam a mesa de ébano foram para ela uma iniciação que a enlevou. Oh, o «numerador de páginas!» oh, o «colador de estampilhas!» A carícia demorada dos seus dedos secos aquecia os metais. E suplicava os endereços dos fabricantes para se prover de todas aquelas utilidades adoráveis! Como a vida, assim apetrechada, se tornava escorregadia e fácil! Mas era necessário o talento, o gosto de Jacinto, para escolher, para «criar!» E não só ao meu amigo (que o recebia com resignação) ela ofertava o fino mel. Afagando com o cabo da, luneta o Telégrafo, achou a possibilidade de recordar a eloquência do historiador. Mesmo para mim (de quem ignorava o nome) arranjou junto do Fonógrafo, e acerca de «vozes de amigos que é doce colecionar», uma lisonjazinha redondinha e lustrosa, que eu chupei como um rebuçado celeste.