A Cidade e as Serras - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 49 / 238

e um rapaz muito ruivo (descendente de Coligny), de perfil de periquito, sacudia os braços curtos como asas, e gania: - Delicioso! Divino! - Só o poeta idealista permanecera impassível, na sua majestade obesa. Mas, quando nos acercámos, esse Mestre do ritmo perfeito, depois de soprar uma farta fumarada e me saudar com um pesado mover das pálpebras, começou numa voz de rico e sonoro metal:

- Há melhor, há infinitamente melhor... Todos aqui conhecem Madame Noredal. Madame Noredal tem umas imensas nádegas...

Desgraçadamente para o meu regalo Todelle invadiu o bilhar, reclamando Jacinto com alarido. Eram as senhoras que desejavam ouvir no Fonógrafo uma ária da Patti! O meu amigo sacudiu logo os ombros, numa surda irritação:

- Ária da Patti... Eu sei lá! Todos esses rolos estão em confusão. Além disso o Fonógrafo trabalha mal. Nem trabalha! Tenho três. Nenhum trabalha!

- Bem! - exclamou alegremente, Todelle. - Canto eu a « Pauvre fille»... É mais de ceia! Oh, la pauv', pauv', pauv'...

Travou do meu braço, e arrastou a minha timidez serrana para o salão cor-de-rosa murcho, onde, como deusas num círculo escolhido do Olimpo, resplandeciam Madame d'Oriol, Madame Verghane, a princesa de Carman, e uma outra loura, com grandes brilhantes nas grandes farripas, e de ombros tão nus, e braços tão nus, e peitos tão nus, que o seu vestido branco com bordados de ouro pálido parecia uma camisa, a escorregar. Impressionado, ainda retive Todelle, rugi baixinho: - Quem é? - Mas já o festivo homem correra para Madame d'Oriol, com quem riam, numa familiaridade superior e fácil, Marizac (o duque de Marizac) e um homem de barba cor de milho e mais leve - que uma penugem, que se balouçava gracilmente sobre os pés, como uma espiga ao vento. E





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