eu, encalhado contra o piano, esfregava lentamente as mãos, amassando o meu embaraço, quando Madame Verghane se ergueu do sofá onde conversava com um velho (que tinha a Grã-Cruz de Santo André), e avançou, deslizou no tapete, pequena e nédia, na sua copiosa cauda de veludo verde-negro. Tão fina era a cinta, entre os encontros fecundos e a vastidão do peito, todo nu e cor de nácar que eu receava que ela partisse pelo meio, no seu lento ondular. Os seus famosos bandós negros, de um negro furioso, inteiramente lhe tapavam as orelhas; e, no grande aro de ouro que os circundava, reluzia uma estrela de brilhantes, como na fronte dos anjos de Boticelli. Conhecendo sem dúvida a minha autoridade no 202, ela despediu sobre mim ao passar, como raio benéfico, um sorriso que lhe liquescia mais os olhos líquidos, e murmurou:
- O grão-duque vem, com certeza? - Oh com certeza, minha senhora, para o peixe! - Para o peixe?... Mas justamente, na antecâmara, rompeu, em rufos e arcadas triunfais, a marcha de Rakoczy. Era ele! Na Biblioteca, o nosso retumbante mordomo anunciava:
- Sua Alteza o Grão-Duque Casimiro! Madame de Verghane, com um curto suspiro de emoção, alteou o peito, como para lhe expor melhor a magnificência ebúrnea. E o homem do «Boulevard», o velho da Grã-Cruz,
Efraim, quase me empurraram, investindo para a porta, na imensa sofreguidão de Pessoa Real.
Precedido por Jacinto, o grão-duque surgiu. Era um possante homem, de barba em bico, já grisalha, um pouco calvo. Durante um momento hesitou, com um balanço lento sobre os pés pequeninos, calçados de sapatos rasos, quase sumidos sob as pantalonas muito largas. Depois, pesado e risonho, veio apertar a mão às senhoras que mergulhavam nos veludos e sedas, em mesuras de Corte. E imediatamente, batendo com carinhosa jovialidade no ombro de Jacinto:
- E o peixe?.