E como, do outro lado, o rapaz de penugem loura insistia pela destruição do velho mundo, também concordei, e, sorvendo o champanhe coalhado em sorvete, maldissemos o Século, a Civilização, todos os orgulhos da Ciência! Através das flores e das luzes, no entanto, eu seguia as ondas arfantes do vasto peito de Madame Verghane, que ria como uma bacante. E nem me apiedava de Jacinto que, com a doçura de S. Jacinto sobre o cepo, esperava o fim do seu martírio e da sua festa.
Ela findou. Ainda recordo, às três horas da noite, o grão-duque na antecâmara, muito vermelho, mal firme nos pés pequeninos, sem acertar com as mangas da peliça que Jacinto e eu lhe ajudámos a enfiar - convidando o meu amigo, numa efusão carinhosa, a ir caçar às suas terras da Dalmácia...
- Devo ao meu Jacinto uma bela pesca, quero que ele me deva uma bela caçada! E enquanto o acompanhávamos, entre as alas dos escudeiros, pela vasta escada onde o mordomo o precedia erguendo um candelabro de três lumes, Sua Alteza repisava, pegajoso:
- Uma bela caçada... E também vai Fernandes! Bom Fernandes, Zé Fernandes! Ceia superior, meu Jacinto! O «Barão de Pauillac», divino!... Creio que o devemos nomear duque... O Senhor Duque de Pauillac! Mais um bocado da perna do Senhor Duque de Pauillac. Ah! Ah!... Não venham fora! Não se constipem!
E do fundo do coupé, ao rodar, ainda bradou: - O peixe, Jacinto, desencalha o peixe! Excelente, ao almoço, frio, com molho verde!
Trepando cansadamente os degraus, numa moleza de champanhe e sono em que os olhos se me cerravam, murmurei para o meu Príncipe:
- Foi divertido, Jacinto! Sumptuosa mulher, a Verghane! Grande pena, o elevador...
E Jacinto, num som cavo que era bocejo e rugido: - Uma maçada! E tudo falha!
Três dias depois desta festa no 202 recebeu o meu Príncipe inesperadamente, de Portugal, uma nova considerável.