O 202, nesse Inverno, refulgiu de magnificência. Foi então que ele iniciou em Paris, repetindo Heliogábalo, os Festins de Cor contados na «História Augusta»: e ofereceu às suas amigas esse sublime jantar cor-de-rosa, em que tudo era róseo, as paredes, os móveis, as luzes, as louças, os cristais, os gelados, os champanhes, e até (por uma invenção da Alta Cozinha) os peixes,
e as carnes, e os legumes, que os escudeiros serviam, empoados de pó rosado, com librés da cor da rosa, enquanto do teto, de um velário de seda rosada, caíam pétalas frescas de rosas... A Cidade, deslumbrada, clamou: «Bravo, Jacinto!» E o meu Príncipe, ao rematar a festa fulgurante, plantou diante de mim as mãos nas ilhargas e gritou triunfalmente: «Hem? Que maçada!...»
Depois foi o Humanitarismo: e fundou um hospício no campo, entre jardins, para velhinhos desamparados, outro para crianças débeis à beira do Mediterrâneo. Depois com o major Dorchas, e Mayolle, e o hindu de Mayolle penetrou no Teosofismo: e montou tremendas experiências para verificar a misteriosa exteriorização da motilidade. Depois, desesperadamente, ligou o 202 com os fios telegráficos do «Times», para que no seu gabinete, como num coração, palpitasse toda a Vida Social da Europa.
E a cada um destes esforços da elegância, do humanitarismo, da sociabilidade, e da inteligência indagadora, voltava para mim, de braços alegres, com um grito vitorioso: «Vés tu, Zé Fernandes? Uma maçada!» Arrebatava então o seu «Ecclesiastes», o seu Schopenhauer, e, estendido no sofá, saboreava voluptuosamente a concordância da Doutrina e da Experiência. Possuía uma Fé - o Pessimismo: era um apóstolo rico e esforçado: e tudo tentava, com sumptuosidade, para provar a verdade da sua Fé! Muito gozou nesse ano o meu desgraçado Príncipe!
No começo do Inverno, porém, notei com inquietação que Jacinto já não folheava o «Ecclesiastes», desleixava Schopenhauer.