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Capítulo 1: A queda da casa de Usher

Página 12
Recordo facilmente a letra de uma dessas rapsódias. Talvez ela me tenha impressionado mais fortemente porque, quando ele-a executou, no fluxo interior ou místico do seu sentido imaginei detectar, pela primeira vez, uma total consciência, por parte de Usher, de que a sua majestosa razão oscilava no seu trono. Os versos, que se intitulavam «O Palácio Assombrado», eram, muito aproximadamente, se não de modo textual, os seguintes:

I

Dos nossos vales no mais verde jante,
De anjos bons constituindo a moradia,
Um formoso palácio deslumbrante
- Monumental paço - se erguia.
No império do monarca Pensamento
Tal templo mostrava a sua foce:
Jamais roçou de asas de anjo o doce vento
Morada que de longe se lhe comparasse.

II

Bandeiras amarelas, soberbas e douradas
No seu topo flutuavam drapejantes
(Isto - tudo isto - nas eras passadas,
Nos tempos para sempre bem distantes.)
E a cada doce brisa que então ia tocando,
Nesses dias em que a calma dominava,
As muralhas ornadas, branqueando,
Um odor alado se evolava.

III

Os que passavam nesse vale venturoso
Por duas lúcidas janelas entreviam
Almas que, ao som de um alaúde harmonioso,
Musicais, acordantes, se moviam
Em redor de um trono onde, sentado,
(Porfirogeneta verdadeiro!)
Num fausto à sua glória apropriado,
Se via desse reino o timoneiro.

IV

E de rubis e pérolas fulgindo
Era do belo paço formado o portal,
Através do qual vinha afluindo,
Brilhando sem cessar, uma real
Legião de Ecos, cuja doce missão
Consistia tão-somente em cantar
Em vozes belas sem comparação
Do seu rei o engenho e o bem-pensar.

V

Gente do mal, porém, que de luto vestia,
De assalto ao rei tomou o estado
(Ah, choremos, que o alvor de novo dia
Não mais verá o monarca desgraçado!)
E a glória que circundava essa morada
E de rubro a vestia, florescente,
Não passa ora de lenda já meio olvidada
Das sepultas eras do antigamente.

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