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Capítulo 1: A queda da casa de Usher

Página 13

VI

E hoje quem o vale encontra na passagem
Vê pelas janelas rubramente iluminadas
Grandes formas que se agitam, qual miragem,
Ao som de entoações desafinadas,
Enquanto pela porta, horrivelmente,
Qual rio lúgubre e veloz no seu fluir,
Uma turba se agita eternamente
E ri - porém não pode já sorrir.

Lembro-me bem de que às sugestões suscitadas por esta balada nos fizeram mergulhar num curso de ideias durante o qual se tornou patente uma opinião de Usher que aqui refiro, não tanto pela sua novidade (pois assim pensaram já outros homens), como pela pertinácia com que ele a sustentava. Esta opinião consistia, na sua forma geral, na sensibilidade de todos os seres do reino vegetal. Porém, na sua perturbada fantasia, a ideia tinha assumido um carácter mais ousado e abarcava mesmo, em certas condições, o reino inorgânico. Não tenho palavras para exprimir toda a amplitude, o completo abandono desta sua persuasão. A crença encontrava-se, porém, ligada (como já sugeri) às pedras cinzentas da mansão dos seus antepassados. Nestas, as condições de sensibilidade tinham sido, imaginava ele, conferidas pelo método de colocação das pedras - pela ordem que presidira à sua disposição, bem como pela dos muitos fungos que as cobriam e pela das der ruídas árvores que havia em redor -, mas sobretudo pela longa e imperturbável resistência desse arranjo e pelo seu reflexo nas calmas águas do lago. A prova - a prova desta sensibilidade - podia ver-se, dizia ele (e eu inquietava-me ao ouvi-lo), na condensação gradual, embora constante, de uma atmosfera que lhes era própria junto das águas e das paredes. Podia descortinar-se o resultado, acrescentava, naquela muda mas importuna e terrível influência que durante séculos moldara os destinos da família, e que o transformara a ele no que eu hoje via: no que ele era.

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Capa do livro A Queda da Casa de Usher
Páginas: 23
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Os capítulos deste livro:
A queda da casa de Usher 1