O Homem que Fora Consumido - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 13 / 14

- Será que nunca mais te despachas com essa cabeleira, Pompey? Escalpar alguém é um processo grosseiro, disso não há dúvida, mas diga-se em verdade, que se pode obter um esplêndido chinó destes no De L’Orme.

- Chinó!

- Anda lá, negro, os meus dentes! Para uma boa dentadura, há que ir ao Parmly; leva caro, mas faz um trabalho perfeito. No entanto engoli alguns dentes esplêndidos quando o grande Bugaboo me calcou com a coronha da espingarda.

- Calcou! Coronha! Só visto!

- Ah, é verdade, por falar em ver, o meu olho... Anda, Pompey, meu patife, atarracha-mo! Aqueles Kickapoos, para arrancar olhos, não se ensaiam nada; mas, no fim de contas, o Dr. Williams engana qualquer um; não faz ideia de como vejo bem como os olhos que ele me fez.

Comecei então a aperceber-me muito distintamente de que o objecto que tinha diante de mim era nem mais nem menos do que o meu recém-conhecido, o brigadeiro por distinção John A. B. C. Smith. Devo reconhecer que as manipulações de Pompey tinham provocado uma sensível diferença no aspecto do homem. A voz, contudo, ainda me intrigava bastante; mas até este aparente mistério não tardou a ser esclarecido.

- Pompey, meu preto desgraçado! - guinchou o brigadeiro. - Creio bem que eras capaz de me deixar sair sem palato.

Nessa altura o negro, murmurando desculpas, dirigiu-se ao amo, abriu-lhe a boca com o ar entendido de um jóquei e aplicou lá dentro, de modo hábil, um dispositivo de aspecto algo singular que não consegui identificar cabalmente. No entanto, a modificação de toda a expressão do brigadeiro foi instantânea e surpreendente. Quando voltou a falar, a voz recobrara toda a rica melodia e vigor que lhe notara ao ser-lhe apresentado.





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