Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 14 / 42

Tinha a certeza de que não era uma voz de mulher. Distinguiu as palavras «sacré» e «diable» (maldito e diabo). A voz aguda pertencia a um estrangeiro. Não podia dizer se se tratava de um homem ou de uma mulher. Não percebeu o que dizia, mas supunha que falava espanhol. A testemunha não acrescentou nada ao que ontem dissemos acerca do estado do quarto e dos corpos.

Henri Duval, vizinho e ourives. Foi dos primeiros a entrar na casa. Confirma o depoimento de Muset. Mal entraram, voltaram a fechar a porta para impedir a entrada da verdadeira multidão que se juntara na rua, apesar do adiantado da hora. A testemunha pensa que a voz aguda era de um italiano. Tinha a certeza de que não falava francês. Também não tinha a certeza de ser de um homem. Podia muito bem ser de mulher. Não conhecia a língua italiana. Não distinguiu as palavras, mas ficou convencido pela entoação que se tratava de italiano. Conhecia Madame L’Espanaye e a filha. Falara muitas vezes com elas. Tinha a certeza de que a voz aguda não pertencia a nenhuma das mortas.

Odenheimer, estalajadeiro. Esta testemunha apresentou-se voluntariamente. Como não fala francês, foi preciso o auxílio de um intérprete. É originário de Amsterdão. Passava junto da casa no momento em que se ouviram os gritos. Duraram alguns minutos, talvez uns dez. Eram gritos prolongados, agudos, horríveis e angustiantes. Foi um dos que entrou na casa. Confirma os anteriores depoimentos em todos os pontos de vista, excepto num. Diz que a voz aguda pertence a um homem - um francês. Não conseguiu distinguir as palavras pronunciadas. Falavam alto e depressa, num tom irregular que exprimia umas vezes o medo, outras a cólera. A voz era áspera - mais áspera que aguda.





Os capítulos deste livro